0.1 Situação corrente / Current situation
PT - Quando em 2010, acabado de terminar a minha licenciatura em Design, me preparei pela primeira vez para encarar o mercado de trabalho como profissional, levava comigo uma mala cheia de expectativas e umas quantas ideias pré concebidas sobre o que seria o trabalho na área. Acompanhava-as uma forte vontade de fazer, criar e evoluir. Na verdade, mesmo antes de ingressar no ensino superior, e tendo seguido um percurso na área das belas artes, já trazia comigo alguns conhecimentos da área assim como algum trabalho realizado. Entre as belas artes, a arquitectura e o design, optou-se pelo design industrial, uma decisão tomada não só pela curiosidade pela vertente, mas também com base nas restrições económicas que condicionavam a decisão. Ingressei então na UBI (Universidade da Beira interior), uma universidade localizada no interior de Portugal e que, a bem das minhas conveniências (e restrições orçamentais) se localizava na minha área de residência.
A Licenciatura foi concluída nos três anos previstos, optando então por adquirir alguma experiência laboral antes de prosseguir com a segunda fase de estudos (mestrado).
Foi em 2010 e Portugal encontrava-se já numa situação socioeconómica deveras debilitada. Não tardaria um ano para que o primeiro-ministro à altura, José Sócrates, anunciasse que iria pedir ajuda externa (6 de Abril 2011). Seguiram-se anos de regressão nos quais Portugal esteve sobre intervenção externa e nos quais a precariedade aumentou e o desemprego cresceu. Algumas das medidas tomadas mantêm-se ainda hoje.
A situação mostrava-se algo difícil, todavia, e ao contrario dos restantes colegas que finalizaram a licenciatura, não tardei a conseguir emprego que, mesmo em forma de estagio profissional, me garantia não só uma experiência real de trabalho, como um salário fixo no final do mês. Era porem um trabalho a prazo, com uma meta bem definida e, quando os objectivos foram cumpridos, o posto de trabalho depressa desapareceu.
Seguiram-se então outros trabalhos, cada vez menos certos, cada vez mais precários, uns mal pagos, outros cujo pagamento nunca chegou. Uns na área do design outros nem por isso, uns como freelancer outros que, mascarados de outra coisa, não deixavam de o ser. Somaram-se novos conhecimentos, novos cursos, uns pagos, outros não, sempre com a desculpa que seriam uma mais valia. Mas não o eram, principalmente aos olhos de quem procura pagar menos, pagar pouco ou não pagar!
Chegou 2017. A mala outrora cheia de expectativas esvaziou-se, os preconceitos dissolveram-se e a vontade de fazer o que quer que seja por vezes falha. O ano cruzou-se como estatística, mais um entre tantos desempregados. Não comi passas nem houve desejos, aqui acredita-se que as coisas se conseguem com trabalho, não com base em mitos, muito menos milagres.
Na cultura do empreendedorismo, a qual nos últimos anos ganhou tanto protagonismo (chagando por vezes a assemelhar-se ao culto quase ao nível da cientologia), fala-se não bastas vezes que é necessário transformar as dificuldades em oportunidades, esquecem-se que, e citando José Ortega y Gasset “O homem é o homem e suas circunstancias” e por estes lados as circunstancias são as de alguém desempregado e sem recursos mas, que por outro lado, não tem intenções de parar.
O ano é de 2017, a situação de Portugal continua frágil, todavia o desemprego dá sinais de querer diminuir e a economia de recuperar. Porem a precariedade laboral, que afecta em particular as áreas da criatividade, continua a reinar não só por meio dos baixos salários, como pela aposta das entidades em estágios ou trabalho não remunerados. 2017 é o ano que comecei como desempregado, mas também é o ano em que tenho tempo para prosseguir com o segundo ciclo de estudos. Quando em 2010, no final da licenciatura, decidi que deveria adquirir alguma experiência laboral antes de me lançar num mestrado, nunca esperei que passassem sete anos antes de me decidir a faze-lo. Porem a dificuldade surge aqui como uma oportunidade, é o optar por não fazer nada ou fazer algo de útil, seguir em frente.
Voltando atrás, ao estágio que consegui no final da licenciatura, foi-me dito que a falta de meios não é uma desculpa, e que, havendo vontade e ideias, os meios arranjam-se.
Quem eu sou? Miguel Batista, licenciado em Design Industrial, actualmente promovendo uma campanha de Crowdfunding de forma a viabilizar o seu Mestrado.
EN (via google translate) - When in 2010, just finished my graduation in Design, and prepared myself to, for the first time, face the work market as a professional, I carried with me a bag full of expectations and a few pre-conceived ideas about what would be to work in the design field, followed by a strong desire of create something and evolve as a designer. In the past, even before I join the university, but coming from a path insert in the arts field, I had already some knowledge about the area and also some work done in the field. From Arts, architecture and design, I’ve chosen Industrial Design, a decision based not only by the interest in the area, but also guided by the economic restrictions that somehow, add a huge influence. I have joined UBI (University of Beira interior), a University located in the interior of Portugal and, in my convenience (and economic restrictions) located in my residence area.
I accomplished my graduation, as expected, passed three years and, at the time, I chose to gain some work experience in the field before I proceed with a Master degree.
It was in 2010 and Portugal was already in a complex socioeconomic situation. It would not take a year before the prime minister at the time, José Socrates, announced that Portugal would request for external financial support (6 April 2011). The followed years were a period of economic regression where Portugal was under external intervention and where insecurity and employment were rise. Some of the taken measures, still on today.
The situation seems odd, however, and unlike my other mates, I accomplished to get a job, even in the internship form, but who provides me a real work experience in the design field and a regular income at the end of the month. It was, however, a job with a term and with well-defined goals, and, when those goals were reached, the job quickly vanished.
Other works had followed, more and more insecure, poorly paid, or others which payment never arrived. Some in the design field, others not at all, some as a freelancer, others which, covered of something else, remain the same.
Then, the persecution for more knowledge was started, always with the excuse of, maybe, more knowledge means more value, a more valuable asset. But it was not. Especially for those who only look for pay less or pay nothing.
2017 has arrived. The bag once full of expectations is empty, the idyllic image of the design field is gone like the desire to make whatever it is.
I crossed the New Year like statistic, one more in the middle of a crowd without a job. However, New Year means new resolution.
The entrepreneur culture, which, in the last years reach an all new protagonism (sometimes in a cultish manner), told us that, sometimes we need to transform the obstacles in opportunities, well, forgot to tell that, like José Ortega y Gasset once told, “the man is the man and his circumstances” and, my circumstances are the circumstances of someone without a job and without resources, but, on the other side, with no intention of giving up!
We are now in 2017. The sócio-economic situation of Portugal stills delicate, however, the unemployment rates and the economy are showing slightly signals of improvement. Nevertheless, the creative fields remain affected by an insecurity feeling, where companies follow low wages policies and the internships, where any kind of payment is included, are the tendency.
2017 is the year I started with no job, nevertheless, for the first time in years, I actually have time to accomplish another goal, my Master Degree. When in 2010, at the end of my graduation I decide to get some work experience before proceed with a Master degree, I never thought that seven years will pass before I decide to do it.
Going back in time, and reminding the internship I managed to in the end of my graduation, I remind the occasion where my boss told me that the lack of means is not an excuse and that if you truly have guts and ideas, the means are the easiest part!
Who I am? Miguel Batista, graduated in Industrial Design, Crowdfunding a Master's Degree.
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